Criança e Saúde

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quinta-feira, 13 de fevereiro de 2014

Ortopedia pediátrica sem excessos.




Hoje o assunto é você pai ou mãe que, com toda razão, se preocupa com a saúde ortopédica dos seus filhos e, logo no início da vida, mais precisamente quando a criança começa a caminhar,  percebem as pernas tortas, pisada para dentro, pés planos, quedas frequentes e desequilibrio.

Os vizinhos falam das pernas tortas dos seus filhos, a professora da escola fala que a criança tem pés planos e cai muito, os avós pressionam para que levem a criança para o médico e usam como justificativa que na época deles, usaram vários aparelhos corretivos sendo que, liderando o ranking de utilização nós temos as botas ortopédicas, os aparelhos noturnos com dobradiças corretivas para as pernas, as faixas elásticas antirotatórias para os membros inferiores e os gessos sucessivos corretivos, nas pernas, para desentortar progressivamente.

E agora o que fazer?

Vamos seguir a orientação dos mais velhos, não é?

Afinal de contas é a voz da experiência que esta falando e, todos nós precisamos de uma orientação sobre o que esta acontecendo com a criança.



Vamos pensar juntos:

Quantos de vocês, que estão lendo este artigo, usaram na infância as chamadas botas ortopédicas?

Tenho certeza que muitos irão se identificar.

E o que falar dos aparelhos noturnos (órteses), feitos de plástico resistente, com dobradiças para correção de pernas tortas?

E as palmilhas para correção de pés planos?  Frequentemente, vejo relatos de crianças que passam a infância toda usando palmilhas.

Precisamos fazer uma reflexão!



Será que ao longo dos anos a medicina não evoluiu?

Ainda é frequente encontrarmos na rua, na escola, no clube, crianças usando botas ortopédicas?

Será que toda perna torta, seja para dentro (geno valgo) ou para fora (geno varo/ pernas arqueadas), sempre é uma doença que precisa de algum aparelho?

E o pé plano, também conhecido como pé chato, sempre é uma doença do pé ou, existe uma fase em que ter pés planos é considerado normal?


A importância da consulta médica com profissional capacitado e atualizado:



Vamos as respostas:

Sim, a medicina evoluiu.

No passado, estamos falando de 40/50 anos atrás, ninguém conhecia a história natural do alinhamento das pernas das crianças, então, ter perna torta, seja para dentro ou para fora, independente da idade da criança ou do grau da deformidade, era considerado doença e a conduta universal e indiscriminada era: "O lider do ranking", as botas ortopédicas.

Quando a criança tinha os pés planos, associado ou não, as pernas tortas, mais um motivo para passar as famosas botas ortopédicas.

Havia um excesso de tratamento, por completo desconhecimento da fisiologia dos membros inferiores , pés e marcha das crianças.

Isso gerou uma cultura, na população, de que sempre a criança precisa de algum aparelho para alguma coisa.

Cabe ao profissional de saúde, explicar claramente para os familiares o que hoje nós sabemos sobre o alinhamento normal das pernas e pés das crianças, ou seja, na dependência das idades, existem deformidades leves, que são consideradas normais, próprias das idades e, portanto, não devem ser tratadas com aparelhos pois, tem evolução para correção espontânea, respeitando os critérios médicos para cada caso.



Estamos falando do geno varo fisiológico, geno valgo fisiológico e dos pés planos fisiológicos.

Quando falo deformidades que são próprias do início da marcha, estou querendo dizer que, mais importante do que prescrever aparelhos, seria  fazer o correto diagnóstico e acompanhamento, determinado as idades próprias para a correção espontânea e, quais os motivos que justificariam alguma forma de tratamento, nunca tratar o que é normal para a idade.

Não devemos nunca, cometer excessos de tratamento e nem ceder as pressões de familiares e prescrever qualquer aparelho sem a menor indicação para tratamento de deformidades normais e próprias da idade.

Afinal de contas, o que é normal, não precisa ser tratado.

Nosso papel, na maioria das vezes é o de explicar, criar um vínculo de confiança com a família e de comprometimento com o acompanhamento da criança. Isso exige tempo na consulta, exame fisico detalhado sendo muito mais importante do que olhar a criança rapidamente, conversar pouco com a família e, rapidamente, passar um aparelho ou palmilha que deverão ser renovados semestralmente.

Uma vez identificado aquelas crianças cuja história natural não esta dentro do esperado, esses sim, deverão iniciar seu tratamento pois, somente nesses casos, que são menos frequentes, o tratamento efetivo é necessário. Mesmo assim, nunca será feito com botas ortopédicas ou órteses noturnas pois, já foram abolidos do arsenal ortopédico, após divulgação de estudos científicos confirmarem sua ineficácia completa para qualquer patologia.



A mensagem é:


Vamos evitar os excessos de tratamento! O uso indiscriminado de palmilhas e aparelhos noturnos para pés planos e pernas tortas é um erro que deve ser evitado.

Não precisamos tratar o que é normal e próprio da idade da criança, ou seja, geno varo, geno valgo e pés planos fisiológicos.

Botas ortopédica nunca mais, são artigo de museu, vamos parar com essa conversa! Foram abolidas e proibidas o seu uso. Se algum médico mencionar o seu uso, por favor, saiam correndo desta consulta!

Ouçam opiniões de profissionais competentes sobre o assunto, observem a consulta e entendam os argumentos usados pelo profissional. Isso é o mais importante de tudo!

Não deixem cometerem excessos de tratamento para deformidades próprias da idade.

Obrigado pela atenção.

Um abraço a todos.

Dr. Maurício Rangel

Tel. para marcar consulta: (21) 3264-2232/ (21) 3264-2239.

4 comentários:

  1. Interessante visão Dr. Rangel, parece que o senhor se propus avançar, ser mais atualizado especialmente no tratamento conservador de certas "anomalias" ortopédicas.
    Gostaria de perguntar: o senhor tem a mesma opinião quando falamos de escoliose idiopática do adolescente, onde atualmente no Brasil ainda continua-se a indicar uma ortese de mais de 50 anos desde sua inclusão terapéutica que é o colete de Milwaukee e que está em completo desuso na Europa e ainda se segue um protocolo formulado no SRS tão antigo quanto essa organização onde enquanto não alcançar uma gravidade de 20 ou mais graus cobb só deve-se observar a escoliose crescer?
    O senhor concorda em abolir este colete de forma semelhante que as botas ortopédicas?

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    Respostas
    1. Boa noite, o colete de Milwaukee tem suas indicações bem estabelecidas atualmente. Deve ser usado em curvas torácicas altas com vértebra apical acima de T7, em curvas maiores de 20 graus Cobb, em pacientes imaturos esqueleticamente, ou seja Risser 0, 1 ou 2. Sua eficácia deve ser bem entendida pela família e pelo próprio adolescente, ou seja, deve apenas impedir a progressao da curva, nao tendo portanto, o intuito de correção da deformidade. O colete de Milwaukee ainda continua sendo utilizado mundialmente, utilizo na minha pratica diária, seguindo os princípios estabelecidos na literatura cientifica sobre o assunto. Atenciosamente.

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  2. Obrigado pelo seu esclarecimento Dr. Rangel, mas minha intenção era ouvir do senhor algo novo, da mesma forma que o senhor diz que as "botas são peças de museu".
    Por exemplo, na Europa encontramos centenas, quero grifar centenas, de publicações científicas de comprovada qualidade que comprovam que ao intervirem com órteses muito menos traumáticas é alcançada não tão só a contensão de curvas como a sua redução, especialmente aquelas com as características descritas pelo senhor. Todavia dentre as literaturas que o senhor menciona, provavelmente encontraremos "Scoliosis and Other Spinal Deformities" de Moe, Winter, Bradford e Lonstain onde também é indicada de forma clara a necessidade de aplicação de exercícios específicos para se obter o resultado pretendido com o uso desse colete, coisa que não ocorre no Brasil, lamentavelmente é indicado RPG "terapia" que não tem nenhuma comprovação científica e muito menos no que se refira à escoliose.
    A impressão que tenho é que no Brasil se absorveu apenas o que parecia interessante e não a plenitude da ação terapêutica da escoliose.
    Quando o senhor se refere à literatura cientifica de "atualmente" é difícil entender quando tudo que se encontra são publicações com mais de 10 anos passados.
    Há uma sensação de que no Brasil são seguidos os critérios do SRS, Scoliosis Research Society sem serem levados em conta vários aspectos técnicos de relevância como principalmente a qualidade da órtese. Nos Estados Unidos um ortesista precisa de uma formação universitária com pelo menos 4 anos e uma amplia instrução sobre coletes, especialmente nos centros de referência, seja Milwuakee, Boston entre outros. Já no Brasil, não há ortesistas com este tipo de formação promovendo-se até aberrações quando falamos de órteses, isso piora ainda mais quando um técnico nem tem comunicação direta com o médico que prescreveu a órtese.
    Pessoalmente lamento muito que se justifique de forma tão pouco consistente o uso do Milwaukee em detrimentos de tantos outros de muitíssima qualidade já existentes no mundo.
    Há a necessidade de atualizações.
    Grato

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  3. Bom dia, aqui vai a publicação recente citada por mim:
    "The current status of bracing for patients
    with adolescent idiopathic scoliosis". Publicado no Journal of Bone and Joint Surgery, Br, 2013, 95-B:1308-16.
    Artigo atual, do ano passado (2013). Talvez quem precise se atualizar seja você! Sugiro que faça uma boa leitura e se atualize. Faço uma medicina de alto nível, baseado em evidências cintificas bem estabelecidas e com ótimos resultados obtidos e satisfação dos pacientes tratados.Atenciosamente.

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